Bigantena

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O legado duplo de Philip Seymour Hoffman


Em duas de suas derradeiras atuações que chegam quase simultâneas, Philip Seymour Hoffman nos deixa a crise. A quem quiser identificar esse pathos com sua morte precoce em fevereiro deste ano terá bom material de análise em O Último Concerto, produção de 2012 em cartaz, e O Homem Mais Procurado, de 2014, estreia da quinta 9. O ator marcou sua trajetória com personagens similares na complexidade, em que o tom estava mais para a desestruturação, o que combinava com a figura introspectiva e simpática. São desse modelo o violinista e o agente do governo alemão, papéis nos respectivos filmes. Em O Último Concerto, de Yaron Zilberman, um quarteto de cordas renomado enfrenta um baque ao ver revelado o diagnóstico de mal de Parkinson do violoncelista (Christopher Walken). Não só a ideia de substituição se impõe, como dramas íntimos afloram, caso de Robert (Hoffman), segundo violino que passa a requerer a posição principal do colega (Mark Ivanir). Na mediação está a mulher de Robert (Catherine Keener), outra violinista, com quem ele terá percalços na relação, enquanto a jovem herdeira do talento dos pais busca se afirmar. O raro cenário da música clássica contribui para uma atmosfera interessante, na qual convivem a sensibilidade dos instrumentistas e os enfrentamentos corriqueiros de suas vidas. Em O Homem Mais Procurado, estamos em um suspense de espionagem de John Le Carré adaptado pelo holandês Anton Corbijn e aspectos típicos do gênero são esperados, a exemplo da incerteza das identidades. Ambientada no pós-11 de Setembro, a história concentra-se em três ou quatro personagens, mas o epicentro é Gunther Bachmann (Hoffman), encarregado da guerra ao terror em Hamburgo, para onde foi enviado depois de uma falha de que pouco sabemos. Quando surge um suspeito checheno convertido ao islamismo, sua investigação topa com uma advogada de direitos humanos (Rachel McAdams) e um banqueiro (Willem Dafoe), mas igualmente com a pressão de não errar. Elenco afinado, diálogos bem articulados e pique asseguram a agilidade do filme.


Fonte: Carta Capital

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